Ouvi recentemente “eu não quero ser amiga de uma pessoa tóxica” e ao explorar o tema com a pessoa, compreendi que no conceito dela e de algumas pessoas, quando convivemos com pessoas com as quais ficamos nos sentindo mal, estamos convivendo com pessoas tóxicas.
Isso me incomodou, mas explicarei o meu incomodo mais à frente. Então fui pesquisar o que a psicologia vai nos dizer sobre “tóxico”, encontrei uma série de artigos falando de toxicomania que é a doença que as pessoas que fazem o uso abusivo de drogas sofrem, que não era o meu objetivo.
Acabei encontrando em um artigo da UFRJ, que afirma que em sua origem o termo “toxicum” era utilizado para mencionar o veneno que os povos bárbaros esfregavam na ponta de suas flechas, com a finalidade de atacar os invasores.
Ou seja, o artigo do Bento, V.E.S. (2006), defende que tóxico remete à “substância química” que ataca o organismo. Partindo deste princípio seria errado afirmar que pessoas podem ser tóxicas e isso é parte do meu incômodo.
Quando afirmamos que as pessoas são ou que somos algo, isso se torna parte da identidade e para algumas pessoas pode se tornar um rótulo. Assim, podemos refletir que pessoas não podem ser tóxicas, mas todos podemos ter comportamentos que “atacam o organismo” seja o nosso ou de outra pessoa.
Então você pode me perguntar se uma pessoa não é tóxica, por qual motivo me sinto mal toda vez que encontro com fulano ou beltrano? E eu te pergunto, quem se sente mal? E ainda pergunto como é esse se sentir mal?
E esta é a segunda parte do meu incômodo, usualmente atribuímos ao outro questões que são nossas. E de fato, talvez “fulano” e “beltrano” não sejam pessoas com as quais você se sinta bem. Mas, o ponto chave é que você, é quem se sente mal com isso.
Portanto, a reflexão precisa ser voltada para você e não para o “amigo tóxico”. Assim perceba, o que no convívio com essas pessoas faz você se sentir mal, busque compreender o que te incomoda e como isso te incomoda.
Por vezes você irá se deparar com pontos nos quais você pode crescer individualmente. Por exemplo: Você sente que sempre depois de encontrar com o “fulano” você se sente pesado e cansado, e pensa que sempre ele vem falando mal de alguém que vocês conhecem em comum…Refletindo um pouco mais você pode perceber que sempre que ele faz isso, você acaba concordando com ele e ainda pensa que se ele fala mal dos outros para você, deve falar mal de você também. E que por fim, isso te incomoda pois você pode acabar sentindo raiva dele e de você mesmo por repetir a mesma coisa a cada encontro!
E aí temos um ponto no qual você pode crescer individualmente, onde você pode trabalhar com esta raiva, com a repetição do seu comportamento de sempre concordar com ele, com a desconfiança que você sente dele…
Assim não existem pessoas tóxicas, existem comportamentos e relações que podem se tornar um ataque ao nosso organismo, mas que com reflexões individuais que podem ser orientadas pela psicoterapia, é possível rever estes comportamentos e relações e conviver de forma mais saudável com essas situações.
Referências:
ARREGUY, Marília Etienne. Fragmentos clínicos sobre uma dita parentalidade tóxica.Estud. psicanal., Belo Horizonte , n. 35, p. 75-85, jul. 2011 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372011000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 abr. 2019.
BENTO, Victor Eduardo Silva. Tóxico e adicção comparados a paixão e toxicomania: etimologia e psicanálise. Psicol. USP, São Paulo , v. 17, n. 1, p. 181-206, mar. 2006 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772006000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 abr. 2019.
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Realizo consultorias além de ministrar cursos e palestras em escolas, universidades,empresas e instituições. E conduzo supervisão e grupos de estudos sobre as temáticas suicídio, depressão, orientação de carreira e vocacional, atendimento clínico, ansiedade, entre outros…